quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sexo contra sexo ou classe contra classe?


"Se nós mulheres integramos diferentes classes sociais em luta, por isso, não constituímos uma classe diferente,mas sim um grupo policlassista.
Mesmo assim, consideramos que a exploração e a opressão
se combinam de diversas maneiras. O pertencimento de classe
de um sujeito delimitará os contornos de sua opressão. Por
exemplo, ainda que a impossibilidade legal de exercer o direito
sobre o próprio corpo seja uniforme para muitas mulheres do
mundo no plano formal do corpus jurídico, não são equivalentes
- no plano do real - as práticas ilegais possíveis e suas previsíveis
conseqüências para quem tem acesso ao clandestino aborto
asséptico por posição econômica, social e até nível educativo, e
para quem deve morrer por hemorragias e infecções, vítimas de
uma ordem patriarcal com descarado rosto capitalista.
Ou seja, ainda que se possa afirmar que o conjunto das
mulheres padece de discriminações legais, educacionais,
culturais, políticas e econômicas, o certo é que existem evidentes
diferenças de classe entre elas que moldaram em forma
variável não só as vivências subjetivas da opressão, mas
também e, fundamentalmente, as possibilidades objetivas de
enfrentamento e superação parcial ou não destas condições
sociais de discriminação.
Se todas as mulheres são oprimidas pelo sistema patriarcal em vigor na quase totalidade das sociedades contemporâneas, não o são pelas mesmas razões, além do que, há oprimidas que oprimem e é importante ressaltar isto.Se não for pela questão de classe como se explica a opressão de gênero, enquanto Ivanna Trump se converte em uma empresária independente no mundo dos negócios, ou Hillary Clinton se senta no poderoso senado norte-americano, e por outro lado 60 milhões de meninas ainda não têm acesso à educação?Supor que somente por serem mulheres há algo que vincula Margareth Thatcher com as desempregadas inglesas, as empregadas domésticas da Argentina, ou as operárias mexicanas é, em última instância, cair no reducionismo biológico da ideologia patriarcal dominante que as mesmas feministas criticam seriamente. Falar de gênero assim, portanto, é fazeruso de uma categoria abstrata, vazia de sentido e impotente para a transformação que queremos levar adiante."


Andrea D´Atri - do livro Pão e Rosas"-

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