terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tesão do Estuprador

Tesão do estuprador.

É de surpreender-se com o quanto algumas pessoas conseguem simplesmente banalizar um ato de violência dos mais pesados que existe reduzindo a uma questão de "ele estava com tesão acumulado".

Práticas como o estupro, a prostituição, e a pornografia, que portam uma nítida dimensão de violência e abuso contra as mulheres, são freqüentemente banalizadas como mera "manifestação saudável de sexualidade - é errado reprimir". E ainda patologizam de "recalcadas" aquelas que se posicionam contrárias à liberação do tesão, do gozo do macho..

Pois que tesão é esse?
"Energia orgástica" da espécie humana, que fica represada e explode como água de uma mangueira presa?

Coerente coerente com a Física mecanicista das mais trash, a narrativa: "Frustre um cara, frustre um cara, uma hora ele explode". Ameaça? "Nãããão, é a natureza humana". E lá estão trocentos psicopatas hollywoodianos pra dar um exemplo.

"Então cuidem, mulheres, pra não frustrar demais os homens, sim?"
...

ACONTECE que essa narrativa tá às avessas.
Está ali PRESSUPOSTO que exista uma "energia sexual" anterior às relações sexuais, e que "masturbação", "pornografia", "estupro" são manifestações culturais dessa energia.

Só que a nível de realidade funciona o contrário:
A masturbação masculina que nós conhecemos (do sujeito se trancar no banheiro, quarto, com a revistinha, computador ou TV - e não aquela da criança simplesmente curiosa pra conhecer o próprio corpo) é uma prática social, estimulada via pares ("Será que sou o único do meu grupinho que ainda não ejaculou?"), que CRAVA NO CORPO uma determinada FORMA DE RELAÇÃO com as mulheres ou com homens.

"Como é? A sexualidade não estava ali antes, desde os macacos?"

É pela reiteração discursiva de amigos, familiares, médicos legitimando o que é uma "sexualidade saudável" e "normal" que um guri sente-se compelido a fazer downloads de pornografia e bater uma punheta.

A masturbação não é apenas algo físico: ela implica a realização de um imaginário social, constituído a partir de determinadas "Formas narrativas" de como uma determinada sociedade legitima a relação com o desejo e próprio corpo.

É um ato performativo, ritual alquímico, que constrói um laço de Naturalização entre um discurso social e uma vivência corporal.

Neste ponto, não se goza APENAS com o corpo, não se ejacula APENAS esperma: goza-se sempre a partir de uma posição social, ejacula-se poder.

Homens, nos masturbamos sempre Imersos em narrativas do que implica ser "um verdadeiro homem", e do que implica "verdadeiras mulheres" - e de que tratamento aquelas merecem de nós.

Assim se constrói o Sexo.
Pornografia, Masturbação, Estupro - carregam uma vinculação em si mesma, não por remeterem a uma "energia natural do corpo", mas porque tecem uma complexa rede de incitações Ideológicas que produzem Experiências de Corpo.

O estuprador não Nasce, ele é produzido pela cadeia de forças de uma Ideologia que coisifica o corpo das mulheres como:
1) Propriedade de homens.
2) Passível de punição sempre que ocupar um espaço público.
3) Condenado ao dever de sempre proporcionar prazer e gozo aos homens.

Mulheres erotizam Homens? Certo. Mas não os tratam como propriedade (não com a mesma literalidade). Não lhes tolhem a liberdade de ir-e-vir. E não lhes condenam ao lugar de Eternos objetos de prazer - podem os desejar, mas não os reduzem a isso.

Mas tudo isso são práticas recorrentes e Normativas dos homens com relação às mulheres.
Essa é a ideologia que se embrenha no DNA do Estuprador; é o vírus que circula nas mãos suadas do masturbador; está ali, cultivado in vitro nos roteiros de filmes pornôs.

Nossos corpos são adestrados com a herança de um ódio vigoroso e profundo contra Toda e Qualquer mulher.

Se queremos nos livrar disso ou não, é aí que entra nosso engajamento político em cena a transformar nossos afetos e erotismos - ser homem não é um destino, podemos ser muito mais do que isso! Mas não dá pra fingir que isso não existe, e que não temos trabalho com nosso corpo pela frente.

É fácil ser contra a prática do estupro, da pornografia e da prostituição enquanto preceito moral... ninguém "defende" explicitamente qualquer tipo de violência. Mas naturalizar e banalizar tais práticas é tão horrível quanto seria defendê-las...

Chegô a hora de se desconolizá do caralho, ô putaria!

(Arthur Grimm - Julho de 2008)

4 comentários:

  1. Bom dia !!

    Faz um tempinho já que acompanho o blog de vcs, e coloquei um link no meu blog tbm. Eu acho que nós temos opiniões parecidas, mas nos expressamos de forma diferente. Eu exploro mais a ditadura da beleza que as mulheres se tornam vítimas...acho que podemos trocar uma figurinhas não ?
    Abraços

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  2. Olá Arthur e companhias, vi o cartaz do GAFE na UFSC, entrei no blog e estou lendo alguns textos, boas leituras.
    Creio ser muito importante em nossa sociedade ver um homem expressando a respeito deste fatos naturalizados, que são colocados como expressões da identidade masculina, como única possibilidade de existência.
    Deixo aqui minhas considerações pela iniciativa.

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  3. PEÇO A GENTILEZA DE NÃO PUBLICAR, MAS LER E, SE POSSÍVEL, DENUNCIAR

    FAVOR NÃO PUBLICAR

    Não sei se esse vídeo é legítimo, mas acabo de ver no You Tube e confesso que fiquei assustada com o que me pareceu abuso absurdo de poder. O nível dos policiais, tanto da vigarista que cometeu o roubo, como dos policiais que fizeram questão de ver a mulher nua e humilhá-la de maneira tão torpe (o que me pareceu uma prática de tortura tão abjeta que não tenho palavras para descrever a indignação que sinto) chocam.

    Isso não foi denunciado? Vocês teriam como levantar informações a a respeito dessa monstruosidade e denunciar?

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  4. Eis o vídeo ao qual me referi: http://www.youtube.com/watch?v=fQrJA0xKOAY&feature=player_embedded#at=50

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