A proposta geral é a invenção de laços de comunicação e solidariedade, retomando a idéia da Internacional da Esperança que foi lançada em 1996 no I Encontro Intercontinental pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo: rede de comunicação e solidariedade sem centro e sem coordenação central. Esta teve grandes êxitos, como a catalização do movimento anti-capitalista, mas ficou ofuscada com a articulação do Fórum Social Mundial, que tentou apagar a memória da luta zapatista e servir de instrumento Estatal de cooptação e aparelhamento dos movimentos sociais. A Flor parece estar se tornando uma tentativa de combater a fragmentação entre os movimentos, entre eles e profissionais, artistas e os povos do Brasil e do mundo. Unir movimentos, reduzir a alienação que resulta da divisão e da alienação capitalista no trabalho e dissolver formas de segregação social. É um esforço de longo prazo que por si só já é tecer "um mundo onde caibam muitos mundos" e opô-lo aos sistemas culturais (cultura econômica, cultura política, cultura científica, etc) do capitalismo.

A principal tática da rede, até o momento, tem sido a realização de eventos locais com a finalidade de catalisar laços de comunicação e solidariedade, sem deixar de usar tecnologias para que formas de comunicação e solidariedade à distância também sejam cultivadas. Já ocorreram 3 Flores da Palavra em Tefé (AM), 2 em Brasília e 1 em Campinas, Vitória, São Paulo e Marília (SP). A ausência de uma fórmula a ser seguida pelos encontros tem contribuído para que eles se adaptem às tradições de luta e invenções locais: assim, a rádio Muda e o rizoma de rádios livres deram a tônica na Flor de Campinas, quando ocorreu uma "ação rizomática" ou "arrastão de rádios livres"; em Brasília a tônica maior tem sido dado na conexão entre os grupos atônomos, entre estes e populações locais e no combate à segregação e à especulação imobiliária; em Marília a conexão entre trabalho o intelectual e compromisso com a luta social teve um destaque maior; finalmente, em Tefé cada Flor tem tido uma cara diferente, sendo que o primeiro privilegiou a conexão entre academia, mídias e movimentos sociais rurais, a segunda teve como destaque a conexão entre povos indígenas e destes com a mídia livre, e a terceiro uniu ações de mídia livre, pesquisa acadêmica, grupos de dança e a formação de uma cooperativa de artesanato no combate à segregação social de um bairro de periferia e ao estigma de que são vítimas os seus jovens. Em Curitiba a ênfase parece estar se dando na conexão entre grupos autônomos da cidade de Curitiba e de Florianópolis , mas isso dependerá das iniciativas resultantes da ausência de uma centralização no planejamento.

O "espontâneo" não existe, e sim iniciativas de pessoas e grupos para além de nossas expectativas. Naturalmente, esta descrição resumida dos eventos empobrece a grande riqueza e as múltiplas facetas que a produção horizontal e colaborativa conferiu a cada um. Ofusca também os processos de comunicação, solidariedade e luta que ocorrem antes e depois desses momentos de mística e identificação comum. Porém, ajuda a mostrar algumas das grandes contribuições que têm se forjado na Flor da Palavra: o fortalecimento de uma identidade comum, através da simbologia da Flor, que vem sendo tecida sem pressa e de baixo para os lados, e que não se limita a categorias menos amplas como "movimento social", "profissional", "artista", "classe", "categoria", "demanda", "etnia", etc, facilitando a invenção de novas conexões; e a invenção de rituais e místicas (os eventos) que ajudam a criar laços de comunicação e solidariedade que já são o "mundo onde cabem muitos mundos" e que, pouco a pouco, se fortalece e se opõem ao capitalismo.

PROGRAMAÇÃO:

13: 30 - Apresentação os coletivos participantes, táticas de luta, articulações, história, etc.

15: 00 - Mostra de vídeos (Manual de RÁDIOS LIVRES: Radio Interferência - RJ, Radiola - DF, Rádio Pulga - RJ, Rádio Cerrado - GO, Rádio Filha da Muda - AC) e debates sobre articulações de diferentes lutas por meio de rádios livres. (Histórico da Rádio Tróia e Rádio Tarrafa - Florianópolis).

16: 00 - intervalo

16: 30 - Apresentação da proposta da Flor da Palavra (histórico, flores em outras cidades, inspiração no zapatismo, articulação de lutas, formas de se organizar uma flor, proposta livre que objetive unir e articular diferentes classes, culturas e lutas).

17: 45 - Divisão de 3 grupos de trabalho para que cada grupo pense em uma proposta para o desenvolvimento de uma Flor.

17: 15 - Apresentação das propostas dos 3 grupos formados

18: 00 - Encaminhamentos, proposta de lista de discussão e de criação de uma Flor da Palavra baseada nas propostas lanças pelos grupos