terça-feira, 7 de outubro de 2008

"Sou Feliz, Descobri Meu Clitóris"


"Sou Feliz, Descobri Meu Clitóris"
Reflexões de Um Ano de Gafe

Esse mês a gente comemora um ano de Gafe. Um ano das primeiras reuniões, ações e evetos. Mas essa história vem bem de antes.. Já vem das meninas do Movimento Passe Livre que sentiam uma puta vontade de conversar sobre os papéis que a gente cumpre e que nos falam para ocupar na vida, baseados em critérios bem estranhos. E tinha também outros homens e outras mulheres por aí que de algum jeito tambem se sentiam indomodadxs com essa demarcação aleatória sobre nossos corpos. Foi dessa fusão, desse encontro, que nasceu nosso coletivo. Um coletivo cheio de dúvidas, de incertezas, de paixões, frustrações, mas principalmente de muitas vontades. A gente trazia individualmente a vontade de discutir, dividir, aprender, e principalmente mudar coisas tão delicadas, que por tantos anos nos passaram desapercebidas. Uma vontade imensa de romper mordaças, cadeados, cintos de castidade, correntes e vendas. Vontade de afirmar o diferente, questionar o que sempre esteve ali, parado como se não pudesse ser de outro jeito.
Nesse tempo todo tivemos consciencia do nosso tamanho. Nós sabemos que estamos engatinhando, que aina há muito o que aprender. Mas talvez, essa tenha sido a grande virtude do grupo: ser pequeno é aprender, e a gente aprende é na prática. Por todos esses meses foi isso que a gente buscou. Aplicar em ações concretas o pouco que a gente já sabia, dividir nossas dúvidas estimulando a confusão de quem pensa que já está esclarecidx, conversar com a cidade sob as maneiras mais diversas: pixações, marchas, cartazes, panfletos, rodas de discussão. Até aqui, essas foram as maneiras que a gente encontrou para colocar todas os gritos pra fora - tanto de os indiginação como os de incerteza.
Com ousadia nos demos o direito de declarar: estamos felizes, descobrimos nossos clitóris. Mas o que diabos queremos dizer com isso????
Os clitoris são descobertos quando afirmamos um prazer sexual que nos foi negado por tantos anos. Mais além, muito mais além, descobrir o clitóris é retomar nosso corpo antes moldado e expropriado pelos discursos dos técnicos, dos especialistas, dos médicos, dos académicos, dos cafetões, da família, do trabalho, das propagandas, da mídia, das cobranças, dos padrões, dos psiquiatras, da escola, do Estado, da igreja. É perceber esse roubo histórico e, apartir disso, buscar acabar com ele e retomar o que é nosso por direito.
Descobrir o clitóris é construir novas relações e expor a falência das velhas. É dar belos golpes contra o individulismo, o consumismo e o egoísmo, que comandam a maneira como nos relacionamos com todos os outros seres. É lutar contra as relações desiguais, de dominação, de submissão, de possesividade, e sob seus escombros edificar relacionamestos mais livres, igualitários, cheios de possibilidades de vivências, que não precisem seguir aqueles modelos falidos de rivalidade, de homofobia, de violência, de violações, de competição e preconceito.
Descobrir o clitóris é também retomar nossas identidades. Negar boa parte do que aprendemos a ser, a agir, a fazer. É lembrar que somos múltiplxs, fluídxs..que podemos ser um monte de coisas ao mesmo tempo para deixar de ser aquilo que desde pequenxs nos convenceram a ser. Descobrir as possibilidades, os jeitos tão diferentes que podemos encarar o que passa pela nossa frente.
Mais que tudo, é descobrir que as coisas podem ser de outro jeito...
É muita coisa! Talvez seja muita audácia mesmo a gente falar que já descobriu todos os clitoris possíveis!
Ainda falta muito, ainda há muitas coisa há ser destruida, coisas grandes e poderosas, esperando que coletivamente coloquemos umas bombas em suas bases.. Bombas e molotovs que virão da selva mexicana, da ilha de santa catarina, do altiplano boliviano, enfim, de todos os lados!
Vamos seguir trocando experiencias, conversando, escutando, agindo, destruindo o que tá imposto, construindo o novo!
Seguimos todxs procurando nossos clitóris rumo a um orgasmo coletivo!
Vulva la Revolucion! * outubro.2008

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